A Wicca, ou Bruxaria Moderna é inspirada nas tradições das Tribos célticas que viviam na Europa antes do cristianismo. Nossas práticas foram em parte recuperadas e em parte criadas por Gardner no ano de 1940. Mas as origens das crenças wiccanas podem ser encontradas no período neolítico entre os povos da Irlanda, Inglaterra, País de Gales, e até da França e da bella Itália. Por isso, a ritualística wiccana é baseada na espiritualidade celta.
Na Bruxaria, o domínio do Sagrado Feminino não é um contraste com o masculino cristão. “Deus” é um termo sem gênero, quem põe gênero nele é a gramática e as pessoas de modo geral. É tudo uma questão de sintaxe, o que não ocorre em inglês, por exemplo.
Gardner afirmava que “ninguém chega ao Deus, senão pela Deusa”. Isso quer dizer, de forma simbólica, que as religiões patriarcais do ocidente causaram um desequilíbrio nas nossas energias, que só podem ser harmonizadas através do reconhecimento do principio feminino da divindade. Pelo equilíbrio perfeito das polaridades, surge o que os Magos antigos chamavam de Andrógino Divino, o que tem Corpo e Espírito unificados com o Criador.
Por cultuarmos o Sagrado Feminino, ainda hoje há a crença de que Arte seja uma Tradição puramente feminista, e até mesmo na Idade das Trevas da Inquisição, 80% das pessoas condenadas ás fogueiras eram mulheres. Mas essa crença é ancestral, e deriva do poder da Bruxa de trabalhar com as forças geradoras da vida, pois somente a mulher pode gestar uma criança. Fora o fato de ela sangrar de acordo com as fases da Lua e produzir leite, que causava temor e reverencia nos homens, levando-os à conclusão lógica de que o poder criador do Universo só poderia ser feminino.
Na Nova Era de Aquário, a Bruxaria vem tornando-se igualitária e todos ouvem o chamado da Grande Mãe um momento ou outro na sua vida, cabendo a cada um aceita-lo ou não. A Bruxaria é uma Religião fundamentada no equilíbrio, e obviamente um movimento feminista ou machista não está fundamentado nisso. Através de nossas práticas, procuramos resgatar o Sagrado Feminino e compreender o Sagrado Masculino. Graças à Nova Era de Aquário, muitos homens e mulheres estão sendo levados a restabelecerem a ligação com os mistérios da vida e da Magia. Alguns Covens são exclusivamente femininos, outros masculinos, e a maioria, graças aos Deuses, são mistos.
Os Bruxos jamais ignoram o mundo físico em prol do mundo espiritual, pois somente através da Natureza podemos experimentar as realidades superiores do Universo. Na Arte não há o conceito de que a matéria seja menos pura que o espírito, pois todo o Universo faz parte do corpo dos Deuses, e a única diferença entre os dois é que a matéria é a mais densa energia e o espírito a mais sutil nas energias.
O amor à Terra a tudo que nos cerca tem feito muitos ecologistas serem Bruxos mesmo sem o saberem, e muitos Bruxos hoje buscam movimentos de proteção ambiental, como o Greenpeace e a WWF, entre outros. Respeitamos o planeta como um ser vivo que assegura nossa própria existência. Não subjugamos nenhuma forma de vida, pois todos somos uma grande fraternidade ao olhar da Grande Mãe.
As forças da Natureza são evidentes, mas há assim alguma coisa nela, cuja identidade não conhecemos ainda. O Bruxo busca entender essas Leis. A Arte então cumpre com dois papéis muito importantes, que são o do resgate do sagrado feminino e o do sentido ecológico, pois o Bruxo compreende que todos fazemos parte da Natureza também.
A crença na Reencarnação não é algo novo existia em todas as religiões antigas. Para aqueles que pensam de acordo com o catecismo cristão, a Reencarnação é absurda. Mas, voltando na história, o Catolicismo original acreditava na doutrina da Reencarnação (ou metempsicose) e só foi no Concílio de Nicéia, em 325 d.C., que tal crença foi abolida, pois não era conveniente para o clero que os cristãos soubessem que de todos os atos eles haveriam de prestar contas aqui na Terra. Abolir a crença na Reencarnação era o mesmo que fortalecer o fanatismo religioso, pois só haveria uma vida para a suposta “salvação”, caso contrário um “deus” cheio de ira os mandaria a um lugar cheio de sofrimento eterno, chamado inferno.
Pensar assim é o mesmo que pensar na vida como algo sem sentido. Deus realmente mandaria todos os indígenas, hindus, chineses, maometanos, judeus, budistas e outro tantos bilhões de pessoas ao inferno por não consentirem com tais dogmas? Deus é Amor!
A Bruxaria não é e nunca foi uma Religião dogmática, tanto que os Bruxos não precisam acreditar em todos os ensinamentos da Arte. Mas falta de dogma não quer dizer falta de ética. Quem afirma que a Magia não se baseia em Leis Ocultas, está negando os conhecimentos básicos da Bruxaria. Você até pode seguir um caminho pessoal (pragmático), desde que esteja ciente das Leis pelas quais a Magia se processa. No entanto, só há uma leia seguir, que é a de não prejudicar a ninguém.
Muitos Bruxos nem sequer acreditam em Reencarnação. Na verdade, não há importância em crer ou não nisso, o fato existe por si só. A crença na Reencarnação só é desenvolvida através de muita reflexão sobre os mistérios da vida após a morte, sobre os fenômenos de dèja vu e aparições de seres incorpóreos, embora a Bruxaria nem sempre se fundamente em visões de seres desse tipo.
Alguns Bruxos também não acreditam em predestinação. Isso até que é encorajado na Arte, pois você deve ter o domínio da sua vida e seu destino. Nós somos responsáveis por todos os nossos atos e jamais colocamos a culpa nos outros por nossos próprios defeitos. Colocar a culpa numa entidade demoníaca seria mais fácil, mas como não acreditamos no Diabo, devemos nos deparar com a realidade nua e crua: de todos os nossos atos haveremos de prestar contas.
E é realmente interessante deixar bem claro esse assunto: Bruxos não adoram (e jamais adoraram) o Diabo. A Bruxaria, por ser muito antiga, não pode ser associada a uma crença maniqueísta do universo.
Maniqueísmo é a filosofia pregada pelo filosofo persa Maniqueu, no século III, e que se baseia na visão dualista do universo, em que matéria representa o mal e o espírito representa o bem. Ou seja, o maniqueísmo acredita no bem e no mal absolutos, o que é um conceito muito simplista de Deus, pois não existe o bem ou mal absoluto. O que é bom para uns, pode ser péssimo para outros. Por exemplo, pode até parecer meio sinistro, mas o lucro de uma casa funerária depende da morte luxuosa de alguém, e, muitas vezes, para que alguém consiga um emprego, uma outra pessoa vai ficar desempregada. O mundo é baseado em polaridades, mas elas são complementares, e não separadas em cantos opostos.
Na Arte, por termos crenças pré-cristãs, não acreditamos na figura de Jesus como sendo a do próprio Deus, por isso não podemos aceitar no anticristo como sendo seu oposto. Cristo e anticristo são conceitos modernos e, portanto, fora das crenças antigas da Bruxaria.
É também válido falar que não comemos criancinhas cozidas, não recitamos orações invertidas, não cuspimos em cruzes, não utilizamos hóstias da igreja em nossos rituais e muito menos profanamos a imagem de Jesus, que, aliás, respeitamos muito (assim como respeitamos a todas as religiões).
Só existem dois pontos em nossa vida que não podem ser modificados, pelo menos enquanto não tivermos alcançado um certo nível de evolução, e esses dois pontos são o Nascimento e a Morte. Entre esses dois pontos, todas as nossas ações fluem livremente e, às vezes, elas geram certas reações que podem ser previstas através de métodos oraculares (como o Tarot) e modificadas com outras ações, ou até mesmo com Magia.
Após a década de 40, no período pós-guerra, muita gente foi buscar a fonte da espiritualidade no oriente, com praticas de meditação budista e iluminação espiritual que (aparentemente) as religiões ocidentais não ofereciam. Na verdade, o que houve com as religiões ocidentais foi a interpretação errada dos livros sagrados, e, conseqüentemente, uma sensação pavorosa de afastamento de Deus. A Bruxaria, por ser uma tradição ocidental, é mais fácil de ser assimilada por ocidentais. Mas isso não significa que somos melhores ou maiores que alguém, só compreendemos plenamente o simbolismo de nossas práticas.
O que ajudou no processo de legalização da Bruxaria também foi o fato que já em 1921, a Dra. Margaret Alice Murray publicou O Culto das Bruxas na Europa Ocidental, o que conscientizou os ingleses a respeito dos direitos humanos e liberdade de culto. E para mudar a idéia de que as Bruxas adoravam o demônio, em 1931 ela também publica O Deus das Feiticeiras. Essa foi a origem da Wicca.
Adentrando ainda mais na Wicca, podemos ver que o Lema Wiccano é fácil: “Sem a ninguém prejudicar, faça o que desejar”. Há quem diga que o nosso lema deriva do lema do Mago inglês Aleister Crowley, amplamente difundido por Raul Seixas e Paulo Coelho na música “Sociedade Alternativa” e na célebre música “Mr. Crowley”, de Ozzy Osbourne. O lema dele era: “Faça o que tu queres, pois é tudo da Lei”. Até podemos ver certa semelhança, mas Gerald Gardner modificou o lema para seus próprios propósitos wiccanos.
O Lema de Wicca refere-se tanto ao fato de você não prejudicar aos outros, quanto ao fato de não prejudicar a si mesmo. Somente assim, respeitando seu próprio corpo, assegura-se que o você estará bem para botar a mão na massa e fazer do mundo um lugar cada vez melhor para se viver.
Alguns Magos até mesmo dizem que o termo Wicca foi criado por Gardner e seu amigo Crowley para popularizar a Thelema, a Religião egípcia fundada por Crowley, mas nada disso é confirmado, sendo provado apenas que Crowley sempre esteve ligado aos bastidores dos Covens da Wicca Gardneriana.
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