Como era a vida sexual de nossos ancestrais? E se eu te dissesse que ser heterossexual antigamente era antiquado? Quer saber mais? Leia esse texto acadêmido traduzido por mim do livro Searching Sex behind the Occult, de Gordon Wellesley. Boa leitura and open ur mind:
“A proliferação das diversas religiões e seitas ocorria num clima de tolerância religiosa e nunca foi motivo de conflito serio. As seitas apropriavam-se das crenças e praticas umas das outras, da mesma forma que os países adotavam os deuses de outras nações.
Talvez seja desnecessário acentuar hoje em dia que a homossexualidade nunca foi considerada uma prática repreensível pelos gregos, ou que a palavra “pederastia”, no sentido de amor de adolescentes, tenha sido usada com um sentido pejorativo. Os gregos viam estas relações com respeito e, em certas classes da sociedade, eram incentivadas pelo Estado por razoes éticas e sociais.
Mas um fato menos conhecido é que, enquanto a sensualidade e estética eram elementos importantes nestas relações, havia outros de caráter nitidamente religioso. Um dos mais profundos foi citado por Bethe em seu estudo The Doric Love of Boys. A inclinação que os gregos tinham por essa modalidade de amor é explicada pela suposição de que no ato sexual as virtudes do amante eram transferidas para o amado. Acreditava-se que isto acontecia fisicamente na transmissão do sêmen, que continha em si a essência da alma, razão pela qual o ato sexual era necessário. Esta explicação de caráter metafísico emprestava, aos olhos dos gregos, uma dignidade ao ato homossexual que nunca mais encontramos nos disfarces e alusões dos séculos posteriores. A explicação refuta igualmente a sugestão de que a homossexualidade era para os gregos apenas uma forma de prazer sexual.
O amor sensual que os gregos manifestavam pela beleza masculina explica-se mais facilmente quando lembramos que, como todas as civilizações da Antiguidade, o mundo grego era essencialmente uma criação masculina no qual o ideal da feminilidade era a mãe e a esposa perfeitas. Quando os gregos afirmavam que o corpo humano nu era o objeto mais belo da criação, o corpo a que se referiam era o masculino. O do rapaz e, para ser mais exato, o que tinha atingido a puberdade. No clima do Mediterrâneo, esta idade variava entre doze e treze anos. Como disse Stratton: “O desabrochar do menino de doze anos me dá alegria, mas muito mais desejável é o menino de treze anos. O adolescente de quatorze anos é uma flor inda mais doce dos Amores, e ainda encantador é o que acabou de fazer quinze anos. O décimo sexto ano pertence aos deuses, e desejar um adolescente de dezessete anos não me cabe por sorte, mas unicamente a Zeus.”
A arte e a literatura gregas demonstram claramente a beleza, a graça e o encanto não apenas dos meninos, como também dos homens e mulheres, da infância à idade adulta. Estas obras revelam que o ideal de beleza do homem adulto era uma masculinidade esplendida reunida à graça. E como os gregos não apenas exaltavam a beleza, mas faziam o possível para torná-la parte de sua visa diária, o atletismo e os ginásios eram instituições importantes. Os edifícios e as pistas, os banhos, os campos de treinamento e outras praças de esporte construídas para jovens, chamavam a atenção dos poetas, dos filósofos e de homens de muitas outras atividades que contribuíram com seus conhecimentos. As façanhas dos atletas de renome, juntamente com a beleza física, era o tema constante das conversas. Hans Licht, ao escrever sobre o palaestra, o campo principal dos jogos e exercícios, observou: “À beleza física dos meninos, rapazes e homens, desenvolvida harmoniosamente pelos exercícios físicos regulares, acrescentava-se a observação diária das obras de arte numerosas… nenhum ginásio ou palaestra deixava de ter um altar ou estatua de Eros; assim, a visão diária da beleza masculina mais perfeita conduzia naturalmente ao amor homossexual que animava o povo inteiro”.
Para Afrodite, os amantes eram sempre amantes, independentemente da natureza de suas relações, e foi em sua intenção que Safo dirigiu sua suplica mais pungente na dor de um amor não correspondido por uma moça.
Embora em Atenas a palaestra não fosse um local para moças, em quase todas as outras partes da Grécia e, universalmente, nos Estados dóricos, as jovens competiam e exercitavam-se tão livremente quanto os rapazes e na mesma condição feliz da nudez completa.
Entretanto, a nudez não era um costume geral. Ela se limitava ao atletismo, às danças publicas, às cerimônias e procissões religiosas. Quando as roupas eram incomodo, como durante os jogos, os gregos preferiam não vestir mais nada do que apenas cobrir pudicamente os órgãos genitais- o biquíni de hoje talvez lhes parecesse provocador e deselegante. Quando a nudez acentuava o valor estético da ocasião, ela era incentivada. Mas a nudez em vista de um efeito puramente erótico não era aprovada na vida social de todos os dias e podia ser severamente punida.
A moda, naturalmente, reservava sua palavra e já que a nudez não era aceita socialmente, conseguiu ter um efeito ainda mais provocante. A transparência das túnicas das outras vestes levou o escritor Luciano a dizer que as roupas de um tecido tão fino quanto teias de aranha são apenas um pretexto para encobrir a nudez completa. E Sêneca, o moralista romano, fez um comentário mais severo: “vejo vestes de seda…..se é que possam ser chamada s vestes, cobrindo as mulheres, mas elas dificilmente podem afirmar, com a consciência, honesta, que não estão completamente nuas. Estas vestes são importadas por um preço absurdo… e a verdade é que as mulheres não tem mais nada a mostrar a seus amantes na intimidade do quarto do que fazem nas ruas.”
Por mais que a nudez fosse habitual a todas as pessoas nas ocasiões apropriadas, as moças e mulheres, que participavam dos jogos e praticavam exercícios ao lado dos rapazes na palaestra completamente nuas, não podiam presencias os exercícios dos homens em Atenas ou assistir à grande Olimpíada. Talvez isso fosse devido à solenidade religiosa da ocasião. A partir de 776 a.C. as Olimpíadas se tornaram um acontecimento nacional e durante os cinco dias que duravam as festas, os gregos observavam religiosamente um período de tréguas, denominadas Tréguas de Deus. As lutas e as guerras eram interrompiodas enquanto os homens disputavam competições para receberem como premio coroas de folhas de oliveira, o antepassado poético das coroas de louro que existem ate hoje. Pindaro, o grande poeta grego, observou: “Uma vitória nas Olimpíadas tinha mais valor para os helenos do que um triunfo militar para um general romano.”
Alem do amor e da beleza, da sensualidade franca e do exemplo dos deuses, havia ainda o costume descrito por Licht: “Os homens atraiam para a sua intimidade algum adolescente ou rapaz e agiam como seu conselheiro, protetor e amigo, educando-o nas virtudes masculinas… Esse costume era tão tradicional nos Estados dóricos que era considerado uma violação do dever quando um homem não tomava um adolescente para educar; os adolescentes, por sua vez, malvistos se não fossem homenageados pela amizade de um homem. O adulto era responsável pelo tipo de vida que o rapaz levava, e participava com ele dos elogios e das criticas”.
Os espartanos, que eram os protótipos do espírito de luta e de resistência, sacrificavam a Eros antes dos combates porque “estavam convencidos de que na camaradagem de um par de amigos que lutam lado a lado está a segurança e a vitória”. Ou, como comentou Platão: “O homem que ama terá vergonha de abandonar seu posto ou atirar para longe suas armas na presença do seu favorito, e prefere mil vezes morrer combatendo”. A história de fato nos mostra que os amigos morriam freqüentemente juntos. A elite do exercito tebano era o “grupo santo” de trezentos homens que estavam unidos pelos juramentos da amizade e da fidelidade. Esses combatentes ocupavam sempre o lugar de honra na linha de frente, e eram invencíveis até a derrota de Queronéia infligida pelo rei Filipe da Macedônia. Terminada a batalha, todos os trezentos homens estavam mortos com o rosto voltado para as linhas inimigas. Mas tarde, o “grupo santo” renasceu, e liderou o exercito tebano que enfrentou sozinho as tropas de Alexandre até ser inteiramente destruído. Eles haviam prestado seu ultimo juramento de fidelidade junto à sepultura de Iolau, o adolescente que foi amado pelo mais forte dos heróis gregos, Hércules.
Havia, naturalmente, alguns outros aspectos menos admiráveis da homossexualidade na Grécia. Podia ser infame, libertina e comercializada. Havia homens que se prostituíam e bordeis masculinos. Um adolescente bonito podia se tornar o favorito e corrompido de um protetor rico, como acontece hoje em qualquer parte do mundo. Havia casos também em que os jovens eram utilizados em cerimônias religiosas com propósitos ímpios.”
Fim…………………………………..
No próximo post dessa série, pretendo postar mais sobre tribadismo (homossexualidade feminina) na Grécia Antiga, alguns poemas sáficos e lenha na fogueira pra quebrar alguns tabus.
Para saber mais, visite:
http://www.homoerotimuseum.net/wel.html
http://www.eroticartcollection.com/_Homoerotic_Art.html
http://www.androphile.org/
http://www.tomoffinlandfoundation.org/
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